Imediatamente saí da escola e fui até o centro da cidade. Precisava fazer com que esse traidor pagasse pelo que fez. Comprei um par de luvas cirúrgicas, uma seringa, veneno e deliciosos chocolates. Lembrei-me de ter visto isso em algum filme ou novela, mas não sabia ao certo. Não importava! Voltei para casa um tanto descontrolado, minhas mãos tremiam; mas eu estava decidido!
Nesse momento me sentia outra pessoa, era capaz de tudo. Passei a me assemelhar à Safira, cheguei até a ter algum afeto por ela. Quem sabe ela não passou por algo parecido, sendo isso o que a tornou tão sem sentimentos?! Era isso o que eu queria. Ser racional. E consegui...Até certo ponto.
Saí do ônibus tão apressado que cheguei a derrubar uma senhora que estava ao meu lado. Rapidamente entrei em casa, coloquei as luvas e suguei o veneno com a seringa. Para matar um humano 2ml seria o bastante, mas injetei o triplo. Afinal, Mário não era humano. E eu também queria deixar de ser
- Pronto – falei, e caí na gargalhada.
- Aquele tonto vai adorar.
Peguei outro ônibus, fui até os correios e deixei meu ‘’presente’’ muito bem empacotado. No final do dia Mário receberia. Cena que eu jamais perderia. Combinei com ele de jogarmos futebol às dezessete e trinta.
Cheguei com meia hora de antecedência.
-Ting – soou a campainha.
A recepção foi muito calorosa, o que me deixou com mais raiva. Será que ele não percebia o que estava fazendo?
Quinze minutos depois chega o pacote. Ele logo se anima ao vê-lo. Abre e lê o bilhete:
Querido, não consigo parar de pensar em você. Você é meu tudo. Que o açúcar desses doces deixe sua vida tão feliz como sua áurea tem deixado a minha.
Ele ficou nas nuvens, sorridente e com os olhos brilhando. Pensou que fosse Bia quem tivesse mandado.
- Droga – pensei com raiva, por não ter planejado isso, ainda tinha muito o que aprender.
Mas o mais inesperado aconteceu. Novamente a campainha soa.
- Quem será? – perguntou ele.
- Amor! – gritou ao ver, nada mais, nada menos, que a minh... que a Bia dele.
Ele a levou até seu quarto, o que eu não pude evitar de acompanhar.
- Obriga... – ia dizer Mário, mas foi escandalosamente interrompido por sua... sua... namorada – não suporto admitir isso.
Já não aguentava mais, me retirei e fui até a sala. Logo voltaria a estar sozinho com meu ex-amigo. Quando inesperadamente...
- FÁBIO! – gritou ele.
- Me ajuda!
Quando fui até lá, não pude acreditar. Várias embalagens de chocolate estavam sobre a cama. E as mãos e a boca sujas apontavam para o que eu temia ver. Bia comera! Ela estava ficando verde e fechando os olhos, pois o efeito do veneno é irreversível. Primeiramente dilacera a garganta da vítima, depois todo o intestino.
Os últimos sons e a lembrança mais marcantes que tenho de minha amada são seus gritos desesperados suplicando por ajuda! Tudo em vão!
Mário chorava feito uma criança. Agarrando o corpo dela, beijando – a. Nem morta pude tocá-la, pois ele não conseguia largá-la, tamanha sua revolta. Eu não chorei, mas parecia que minhas entranhas estavam se dilacerando como as de Bia. Que blasfêmia!
Saí de lá, deixando o casal sozinho. Acho que minha vingança foi executada. De qualquer forma, jamais teria a mulher que amei. Qual seria a diferença em tê-la morta ou viva nas mãos de outro? Nenhuma!
Uma semana depois leio nos jornais:
Jovem se joga do 2º andar de escola. Quebra a cabeça e morre no hospital. Suspeita-se que entrou em depressão devido o assassinato da namorada, do qual foi acusado.
Voltei para casa rindo:
- É, esse tal amor pode se transformar em todos os sentimentos. Rancor. Ódio. Vingança. Mas parece que a minha ainda não foi completamente executada, afinal aquele verme arranjou um jeito de retornar à companhia de sua ... sua namorada.
Weslley Fontenele
3 comentários:
:O
muito bom , prende o leitor, já vou ler mais :)
Parabéns, ahhh, e eu também desejo fazer direito.
Obrigado Dayane! :)
Que legal!
Weslley.
Gostei do conto, vc tem jeito pra escrita, os personagens são bem representados. São passionais, vingativos ou seja possuem traços bem humanizados.
Legal, vc tem futuro.
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