Quando o amor cria um assassino - parte 1

Nunca pensei que ser responsável pudesse doer tanto. Na verdade, não foi o ato em si, foi o que desencadeou a partir disso. Amor à primeira vista? Nunca acreditei. Até que... Tudo aconteceu.

Era fim de ano, festas e brincadeiras animavam todo o colégio. Não se sabia quem queria mais que as férias chegassem; tamanha era a animação! Mas se sabia quem não queria que elas viessem. Safira. A professora mais rejeitada por todos, por ser um tanto cruel. No seu corpo roliço e musculoso era impossível esconder a personalidade firme e decidida.

Tanto que sua última ordem foi:

- Quero para daqui três dias um relatório completo sobre as Briófitas.

Falou de forma inflexível, sendo que ninguém ousou reclamar. Logo, de forma bem discreta, os grupos foram se formando.

- Fábio – falou alguém me cutucando.

- O que foi Mário? – perguntei, já sabendo o que vinha por aí.

- Vem pro meu grupo?

Aceitei, afinal uma das coisas que não sei é dizer ‘’não’’. Estavam no grupo do Mário: Carlos, Yago e eu. Combinamos de fazer o trabalho às 15 horas. Dito e feito!

Ao chegar à biblioteca da escola já me deparei com eles conversando, brincando, e nada de terem começado o relatório. Isso me deixou furioso, mas me contive – como sempre. Tudo apontava que aquela reunião ia transcorrer como as de sempre. Mas não...

Havia um grupo de garotas um pouco mais novas que meus amigos. Elas estavam seriamente realizando seu trabalho. Uma delas me encantou; chamava-se Bia. Era baixa, loira e tinha os cabelos lisos. Uma pena que pelo o que percebi ainda não tivesse despertado para o mundo do ‘’amor’’, ou melhor, não tinha se deixado adormecer no belo sonho que esse sentimento deveria representar, mas nunca representou para mim.

Os dias se passaram e tudo transcorreu normalmente. Menos pelas lembranças que ela tinha infiltrado em minha cabeça. Às vezes achava que Bia era uma bruxa e tinha me amaldiçoado.

- Calado – falava arrependido por ter pensado nisso, sem saber que eu mesmo me amaldiçoaria mais tarde.

Chegaram as férias. Tão esperadas não eram? Agora por mim repugnadas. Cheguei a chorar para que as aulas voltassem.

01 de fevereiro de 2009

- Ring ring ring – era o despertador, a melodia que eu mais odiava. Sem saber que após o assassinato que ocorreria , qualquer som parecido com um tiro, ou outra coisa que lembrasse morte me traria pânico.

Levantei – me e tomei banho, vesti-me e correndo peguei o ônibus. Ao chegar ao colégio me deparei com a cena mais sórdida que já presenciei. Mário aos beijos com Bia. Nos meus pensamentos eu gritava, chorava, esperneava. Ele sabia de tudo: que eu a amava, que ela era uma constante nos meus sonhos – e nos meus pesadelos. E somada à dor da perda – se é que se pode perder algo que não se tem -, estava o sofrimento causado pela traição. Ele era meu amigo. Eu desabafava com ele. Contava o que sentia. E ele fazer isso?! Então me decidi.

- CHEGA! – gritei, chutando a calçada.

Comecei a preparar minha vingança.