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Um estudante do 3º ano do Ensino Médio, que quer ser ator, escritor, pai... Que busca de todas as formas expressar o que pensa e sente. Raiva. Amor. Vou buscar falar de cada coisa um pouco, e principalmente, meu livro. Espero que gostem, e não esqueçam de comentar e criticar. '' Não sou grande coisa, e nunca terei tudo, à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. ''(Fernando Pessoa)

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Carta reveladora - parte 1



‘’ O ator Marcos Salvatore confirma que antes da fama mandava cartas a si mesmo, onde escrevia coisas que gostaria de lembrar no futuro ‘’ , lia Pedro na Revista The Famous quando foi interrompido por alguém que batia à porta. Irritado foi ver de quem se tratava. Ficou mais calmo ao ver que era Bárbara, sua esposa. Casados há 6 anos e faltando um mês pra completar 7. Sem filhos. Sem descendentes.
Pedro era um balzaquiano cheio de ilusões, gostava de ler, de escrever e adorava ir ao cinema. No entanto, seu corpo já demonstrava os sinais da idade: a pele sem viço, o cabelo já esbranquiçado contrastando com os dentes levemente amarelados.


Bárbara era muito altiva, loira e fugaz; não o tipo de mulher que se encontra em qualquer lugar. Ela trabalhava em uma repartição de revistas de acessórios para casa: a Fashion House. Mas tinha dedicado os últimos meses de sua vida numa corrida desesperada para ter filhos. Médicos. Tratamentos constrangedores. Altos gastos. Tudo para matar o monstro de não se sentir capaz de ser mãe, de provar sua feminilidade.
Pedro apesar de estar gastando quase todo seu salário que ganhava como professor de Literatura, não reprimia sua mulher, pois sabia que só quem passa por isso compreende o sofrimento.
- Boa tarde! – gritou ela, altivamente entrando na sala e jogando a bolsa no sofá.
- Bo... – Pedro pretendia responder, mas foi interrompido.
- Fiz um empréstimo de 30 mil reais!
Esvaiu-se toda a delicadeza de Pedro. Por um instante tornou-se ríspido e direto.
- Você enlouqueceu? Estamos atolados em dívidas, e você ...
- Foi para nosso bem. Contratei uma barriga de aluguel.
Pedro deixou-se cair no chão. Não sabia o que fazer. Ficar feliz ou triste? Rir ou chorar? Poderia ser uma oportunidade de tornar-se pai. Mas a esse preço? Talvez não valesse à pena. Os dois dirigiram-se até o quarto onde conversaram melhor e decidiram que essa era sim uma boa alternativa. Uma mulher saudável e sem impedimentos para engravidar poderia sem problemas dar à luz ao filho deles.
- Acho que devemos providenciar um contrato para não sermos enganados..
- Por favor, melhor não. Ela pode sentir-se ofendida e não terei mais meu filho. Vou continuar acordando à noite escutando o choro de uma criança e verei ao meu redor tudo vazio... Sem ela.
- Que seja!
Então os dois foram ao encontro da moça: Vanessa. 22 anos, um corpo de modelo, esses 30 mil reais estariam muito bem aplicados. Desse corpo só poderia nascer uma criança linda e saudável. Vanessa morava num bairro simples, ao sul de Fortaleza. Roupas simples, fala suave, mas um sorriso mais largo que o Rio Ganges.
- Boa tarde - disse Pedro, ansioso ao vê-la.
- Oi – respondeu Vanessa tímida praticamente atrás da porta. Ela não sabia se essa sua tentativa de ganhar dinheiro fácil traria problemas posteriores. E se a criança nascesse deficiente? Eles a aceitariam?
- Como vai querida? Tem tomado as vitaminas que lhe indico? Você precisa ficar bem forte – falou Bárbara, excitada empurrando a moça por trás da porta.
Vanessa ficando sem-graça respondeu com um simples movimento na cabeça.
Voltaram para casa e após três semanas marcaram com o médico a implantação do óvulo fecundado do casal em Vanessa.
Foi constrangedor para todos. Bárbara teve que ficar nua para um médico desconhecido introduzir um instrumento afim de recolher seu óvulo. Pedro teve que ficar com uma pilha de revistas velhas e nada ‘’convidativas’’ em uma sala para colher um certo ‘’produto’’.
Mas Vanessa foi a que se sentiu mais acuada. Por um motivo óbvio: carregar por nove meses o filho de um casal desconhecido. Mas eram 30 mil reais... A recompensa compensava o sacrifício. Implantado o zigoto, a futura mamãe entregou à Vanessa o xeque, através do qual ‘’comprou’’ seu filho. Parcela única! Sem devolução!
1º mês:
Sem nenhuma alteração aparente no corpo, a mãe de aluguel não recebeu nada de especial. Nenhuma alimentação adequada.
3º mês:
Já era perceptível uma pequena alteração no corpo da jovem: seus seios se alongaram e sua barriga se expandiu.
5º mês:
Foi onde todos puderam ter certeza: ela estava grávida. Então Bárbara começou a entregá-la um dinheiro extra para a compra de chocolates, vitaminas e energéticos. Afinal, mãe de aluguel fraca, a ‘’mercadoria’’ comprada é de qualidade inferior.
8º mês:
Vanessa estando com a barriga enorme, Bárbara viu a necessidade de comprar roupas para o bebê. Blusinhas e shorts de todas as cores, exceto azul e rosa. Pois não se sabia o sexo da criança.
9º mês:
A jovem sentia contrações permanentes. Já não suportava mais aquela criança. Vômitos. Insônia. Depressão. Depois dizem que trabalhar com comércio convencional é difícil, há algo melhor que : comprar > não gostar da mercadoria > devolução imediata?! Se isso fosse possível nessa transação comercial, certamente Vanessa devolveria os 30 mil reais, o óvulo, e receberia de volta sua valiosa paz de espírito e sua alegria constante.

O dia do parto foi um verdadeiro alvoroço. Vanessa ligou para o casal que foi buscá-la e a levaram até o hospital. A criança estava nascendo praticamente dentro do carro enquanto havia uma maca esperando próximo à portaria. Na sala de cirurgia foi que o negócio pegou fogo.
Vanessa gritava desesperadamente, pois sua barriga doía tanto que ela suava. Com os olhos arregalados e a testa pálida, ela escutou o médico falar:
- É um ME – NI – NO – soletrou ele.
O garoto foi entregue aos braços da mãe de aluguel e ela não sabia o que estava sentido. Era uma confusão de surpresa e vergonha, vergonha por ter rejeitado aquela criança. Aqueles olhos escuros e penetrantes chamavam sua atenção: duas pérolas que a enfeitiçavam. Esquecera por 15 minutos que estava segurando um produto; o que ela lembraria muito em breve.
Vanessa e seu filho ( ‘’seu filho?!’’ ) vão para casa, pois ela ainda precisava amamentá-lo por alguma semanas para depois entregá-lo para sua ‘’dona’’. O que ela decidiu NÃO fazer. Iria cuidar de seu bebê, amá-lo, e de maneira alguma vendê-lo.
Bárbara ainda os visitou algumas vezes antes de Vanessa contar-lhe tudo. Quando ficou sabendo foi um poltergeist.
- O quê?! Você esqueceu o tanto que investi em você?
- Mas não posso... Ele é meu filho.
- Seu?! Ele é meu, é sangue do meu sangue.
- Isso não importa. Pegue seu dinheiro! – disse Vanessa, entregando bruscamente o chegue à Bárbara, que não conseguia crer nisso.
Ela saiu chorando ao encontro de Pedro, que também ficou pasmo. Ele queria aquela criança, também queria ser pai. Precisava capturar seu filho, a qualquer preço. Lembrou-se de Marcos Salvatore, o ator que escrevia cartas a si próprio e as abria após muitos anos. Teve a ideia de escrever uma que seria aberta logo, logo. Essa carta explicaria muita coisa.

Um comentário:

Thiago disse...

Legal! Tá bem feito o conto!
=D
...agora vou ler a outra parte...